quarta-feira, 17 de março de 2010

CYNTHIA GARDA MANDANDO VER NO SEU BLOG

VIVA A SANTA VAGINA

Uma mulher ganhou o Oscar de melhor diretora. Não devia ser notícia per se, mas é, em 2010, a primeira vez que isso acontece. Katherine Bieglow é uma informação importante para entender as mulheres.

Eu não atentava para o fato de nenhuma mulher ter ganho o Oscar de melhor diretora nos últimos 36 anos, os anos em que estou no planeta, os anos todos em que podia ter reparado nisso. Para se ter uma ideia do que isso significa para mim, pessoalmente, imaginem se nos últimos 36 anos nenhum homem tivesse ganho o Oscar de melhor diretor. Só mulheres. Teria passado em branco para alguém?

Em 82 anos de festas do Oscar, só quatro mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção. Hoje o Blogjob é sobre números. Números para quem quer entender as mulheres.

Quanto mais anos de escolaridade a mulher tem no Brasil, menos ela ganha em relação aos homens com os mesmos anos de estudo. Segundo o IBGE, as brasileiras que completam o nível superior ganham, em média, 55% menos que os homens. Os dados são de 2009.

O Congresso brasileiro tem 55 parlamentares mulheres – 45 deputadas (8,8% do total) e 10 senadoras (10,3%). O único país latino-americano com menos representatividade de mulheres no Legislativo que o Brasil é a Colômbia.

Segundo um estudo da Organização Mundial da Saúde publicado em 2009, 24% das mulheres entrevistadas no Peru, 28% na Tanzânia, 30% em Bangladesh e 40% na África do Sul disseram que sua primeira relação sexual não foi consensual: foram estupradas. O estudo recolheu dados diretamente com 24 mil mulheres em dez países.

O último estudo nacional feito nos Estados Unidos reportou que mais de 14% das mulheres de lá disseram que já foram estupradas. Essas são as que falaram. Usando números conservadores, conte as próximas dez mulheres que ver, e a estatísticas vão sugerir que pelo menos uma delas foi ou será estuprada ao longo de sua vida.

Quando o assunto é Deus, a coisa fica tenebrosa. Para a igreja católica, ter um pau é condição divina e inexorável para ser padre, bispo ou papa. Eu não entendo muito de catolicismo, mas sei que o ser humano mais próximo de Deus na terra é o papa, e se hoje eu e qualquer dos meus amigos decidirmos nos aproximar de Deus na Terra, todos os meus amigos homens podem chegar mais perto dele do que eu, porque eu não tenho um pau.

A igreja anglicana aceita homens e mulheres, várias correntes protestantes também. Algumas correntes de budismo aceitam monjas, outras não, e a religião explica que o próprio buda as aceitou depois de várias recusas mas impôs condições como a sua eterna inferioridade hierárquica a qualquer monge homem, mesmo que ela seja monja há cem anos e ele, há um. O judaísmo também só aceita a liderança dos fiéis para a aproximação com o divino para os que têm um pau, embora novas correntes de resistência briguem contra isso (o mesmo acontece em quase todas as religiões). O islamismo…

Também não entendo muito de candomblé, mas sei que mães e pais de santo comandam os fiéis e fazem a ponte com o divino independente do seu sexo. Eu, Cynthia, mulher, em 2010, não tenho religião nem interesse por isso, pelo explicitado acima. Mas se quisesse ter, escolheria o candomblé, que acredito seria considerado paganismo. Eu também leio tarô, bebo quando quero, fumo o que quero, faço sexo quando quero e nunca fui batizada. Tecnicamente, sou o que a igreja queimou na inquisição sob o nome de bruxa.

No dia internacional da mulher, eu só posso mesmo é agradecer a todas as bruxas que me antecederam. E continuar achando a minha buceta divina. Axé!

http://blogjobing.wordpress.com/

ASSUNTO COMENTADO NO BLOG CYNTHIA GARDA

MASTURBAÇÃO FEMININA



O que aproxima homens e mulheres é o mistério. E no sexo nada é mais misterioso que o orgasmo do outro. Quando comecei a fazer sexo, logo corri para conversar com os amigos gays, porque poucas coisas podem ser mais incompreensíveis do que um homem da primeira vez em que você tenta interagir com um. Na minha lógica, ninguém saberia explicar melhor do que quem dá e recebe, e eu queria muito aprender mais sobre esse segredo que é o homem. Lembro das explicações do Chico e do Cacau até hoje.

Agora, imagina tentar entender o orgasmo de alguém que nunca teve um?

Segundo os dados que consegui coletar na internet, entre 15% e 30% das mulheres não gozam. Esses números são sempre falhos, mas o fato sobre o qual eu acho que é preciso falar é que um número grande de mulheres nunca teve um orgasmo. E eu só posso imaginar a dificuldade dos homens em tentar entender o que fazer.

Na minha cabeça, não tenho dúvidas sobre o que causa isso: falta de punheta. Se eu pudesse começar uma campanha pela felicidade mundial de homens e mulheres, eu faria uma campanha pela masturbação. Porque no universo feminino, ainda falta (muita) masturbação.

Imagina atravessar toda a infância e adolescência sem se masturbar. Agora, imagina fazer sexo pela primeira vez sem nunca ter tido um orgasmo. Sem ter a menor idéia do que é o gozo. Aparentemente essa é a primeira vez de um número ainda significativo de mulheres.

Eu acredito que cada mulher é responsável pela sua felicidade e certamente pelo seu orgasmo. Então, só para contextualizar, este texto de forma alguma sugere aos homens que tomem para si a caçada ao orgasmo perdido. Essa saga é responsabilidade de cada mulher que ainda não teve um. Mas todo mundo pode participar. E não é só na cama. Existem muitas de situações que coibem a masturbação e o gozo feminino. E é por isso que eu acho preciso falar sobre masturbação, como minha mãe falou comigo.

E já que estamos em campanha, masturbe a sua mulher. Masturbe ela no carro enquanto dirige, no cinema, na cama. Se tiver a chance, masturbe. A masturbação é a porta de entrada para o gozo dela com você também. Se estiver na dúvida, pense quando você gostaria que ela lhe masturbasse. Inverta isso e terá a resposta para quando ela gostaria de ser masturbada por você. E não se esqueça de masturbá-la de manhã, quando for o caso. Porque você acorda de pau duro mas ela não acorda lubrificada. Por um mundo com mais orgasmos, masturbe.

Punheteira do cerrado
Eu estava na redação do jornal, ainda pilhadíssima nas minhas primeiras semanas de emprego, quando um colega novato como eu veio me pedir ajuda. O jornal lançaria um suplemento para adolescentes e ele tinha que escrever a primeira matéria, sobre masturbação. Queria saber se eu conhecia alguém que falaria sobre o assunto. Passei o telefone do Breno e do Bruno, que aos 14 anos escreveram a música “Menino novo gosta de bater punheta”. O Breno, claro, deu uma entrevista incrível e posou com um pôster da Marylin Monroe. A nossa parceria, pensando bem, começaria ali, há uns 12 anos, falando sobre punheta para a cidade inteira.

Uma semana depois, já com a matéria paginada, meu colega me chamou de novo, desta vez para que eu visse o resultado. O que se seguiu foi uma das coisas mais revoltantes que já tinha lido. A matéria tinha várias fotos, zilhões de nomes, todos celebrando a masturbação, todos homens. E tinha depoimentos de duas meninas não-identificadas. Elas não tinham nomes, tinham iniciais seguidas de pontos.

No jornal, só suspeito de crime aparecia com as iniciais ao invés do nome. Então, sem dizer nada, a matéria acabava sugerindo que os homens deviam se orgulhar de se masturbar e que as mulheres deveriam ter vergonha disso. Discuti com o meu colega, e ele respondeu que nenhuma mulher concordou em dar o nome. Eu disse que isso era só reflexo do preconceito dele. Ele me perguntou se eu daria uma entrevista. Eu não podia dizer que não.

Começou assim minha primeira declaração pública sobre o meu extenso hábito de me masturbar, que vai me acompanhar para a vida inteira. Eu não lembro em detalhes tudo o que falei, mas contei que me masturbava desde muito pequena, e que uma vez aos 14 anos de idade me tranquei no quarto e decidi ver quantas vezes conseguia gozar. Gozei mais de dez vezes e vomitei. Contei que nos anos 80 me masturbava lendo a seção Forum da Ele & Elas (não existia internet na época). E que continuaria me masturbando a vida inteira.

Uma hora depois, veio o pedido da editora do caderno. Queriam que eu tirasse uma foto para a matéria. Eu disse que só se a minha mãe estivesse na foto, pra botar um pouco de ordem. Liguei para ela então para explicar como a matéria sairia se a gente não falasse. E que isso contribuiria para um monte de garotas terem vergonha de se masturbar. E que como não se masturbariam, fariam sexo pela primeira vez sem nunca ter tido um orgasmo. E que provavelmente demorariam anos para gozar. Anos de sexo mais ou menos, e a gente tinha a chance de ajudar.

Minha mãe ficou muito orgulhosa de mim. Saiu do trabalho, dirigiu para o jornal e posamos para uma foto juntas. Sou filha de hippies, cresci ouvindo que masturbação fazia bem para a saúde e era gostoso. Ponto.

Minha criação explica porque no meu primeiro emprego, no primeiro mês no trabalho, dei uma entrevista falando sobre masturbação, impressa em centenas de milhares de cópias por toda Brasília. Virei a punheteira do cerrado, eu acho, e lembro-me de um amigo com cara desconsolada me perguntando: “Porque você fez isso?”

Fiz porque era importante. Fiz porque eu não sei qual é o número de verdade, mas o que achei na internet diz que até três em cada dez mulheres não gozam. Fiz porque amigas minhas que admiro e amo nunca gozaram ou levaram anos para gozar pela primeira vez.

Este post foi na verdade inspirado num merecido puxão de orelha que eu tomei da Dani depois de postar aqui uma notícia do New York Times sobre a explosão nas vendas de vibradores nos Estados Unidos. Eu postei os números, o link da matéria e só.

Ao contrário de todos os outros posts, que tinham muitos comentários, esse ninguém comentou. Só a Dani, que falou do meu pudor. Ela me atingiu no estômago. Por que pela felicidade da espécie, a gente incrivelmente ainda precisa falar sobre masturbação.

Assim decidi contar a história da copeira em um lugar onde trabalhei. Nós, em grupo, as mulheres que trabalhávamos no local, por uma série de fatos imprevisíveis descobrimos que ela nunca tinha gozado ou se masturbado ou feito sexo oral.

E entre livros emprestados e conversas no cafezinho, ela começou a se masturbar em casa, e depois disso veio todo o resto. Foi a conversa, a leitura, que abriu para essa mulher de quase quarenta anos, morando um uma favela, mãe de três filhos, a porta para o primeiro orgasmo. E conversar, todo mundo pode.

Todo mundo pode gozar também. Estamos em campanha

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